Marcano, Mathieu, Jardel, Grimaldo, Taarabt, Luiz Phellype… Para além de jogadores das 3 grandes equipas da Liga Portuguesa de Futebol, o que terão em comum? Foram todos “vítimas” do “vírus” das lesões neste período de regresso à competição após a paragem forçada pela pandemia de COVID-19.
De acordo com um estudo realizado pela empresa zone7, sediada no Reino Unido, os futebolistas da Liga inglesa terão um risco acrescido de lesões de 25% quando regressarem à competição, suspensa devido à pandemia da covid-19. Este estudo foi realizado utilizando 35 jogadores profissionais de todo o mundo, de forma a antever o impacto físico considerando oito jogos em 30 dias.
Ainda que algumas lesões dos jogadores referidos tivessem origem traumática e outras causadas por sobrecarga de estruturas, a que devemos estar atentos no regresso ao desporto? Existirão diferenças entre os níveis profissionais, amadores e recreativos?
Return To Play – O Regresso à Atividade Desportiva
O “return to play” é o processo de tomada de decisões com vista ao regresso ao desporto de um atleta vindo de lesão ou doença. Ainda que, em instituições e clubes de elite, possam ser utilizadas as mais variadas tecnologias para efetuar a avaliação do atleta, quer globalmente quer diretamente na zona corporal afetada, os princípios básicos como a ausência de sintomas e o aumento progressivo de carga em contexto de treino são aplicáveis em todos os níveis de qualquer modalidade desportiva. (FIFA, 2017)
As decisões a tomar são complexas, na maioria das vezes, específicas para cada modalidade e ainda, em alguns casos, sujeitas a alguma pressão externa oriunda de agentes que não estão diretamente ligados ao processo de reabilitação (ex: pressão para regressar antes de um jogo ou competição importante). Idealmente, deverá ser o professional de saúde a ter a palavra final nesta decisão, principalmente em casos em que a decisão do próprio atleta esteja comprometida por esses fatores externos ou em casos de alteração da capacidade de decisão do atleta (ex: traumatismos cranioencefálicos). (Dijkstra, Pollock, Chakraverty, & Ardern, 2017)
Critérios de Retorno
Tem sido recomendado que o timing de regresso ao desporto seja baseado em critérios objetivos, mas essa abordagem pode ser problemática à falha na validade desses mesmos critérios, o que pode causar recidivas das lesões iniciais. Para contrariar essas falhas, a alternativa é a utilização de informação epidemiológica, baseada em evidência sólida, de forma a criar um prognóstico de tempo perdido por lesão. No caso do futebol profissional existe já uma base de dados, a ECIS (Elite Club Injury Study), que contém mais de 23000 casos de lesões de clubes europeus com toda a informação sobre o tipo de lesão, os protocolos de recuperação utilizados e o tempo que o atleta passou afastado da competição. (Ekstrand, et al., 2019)
Num estudo publicado no British Journal of Sports Medicine, foram analisadas 116 equipas de futebol de vários países, ao longo de 16 anos, com o objetivo de definir o tempo de ausência e o regresso após as 30 lesões mais comuns nesse desporto. Estas lesões foram depois divididas em três categorias (leves, moderadas e severas). As lesões leves obrigaram a um período médio de ausência de 7 dias, as moderadas a um período médio entre 8 e 28 dias e, por último, as lesões severas obrigaram a um período médio de ausência superior a 28 dias, com 15% destas ainda a obrigar a uma paragem superior a 9 meses (270 dias). (Ekstrand, et al., 2019)
Uma consideração importante sobre este estudo é o facto de ter sido realizado com atletas profissionais de futebol, com acesso a tecnologias e meios de reabilitação topo de gama, algo que pode não estar disponível no caso de um atleta recreativo. Além disso, podemos argumentar que o tempo de ausência de um atleta profissional deve, teoricamente, ser o mais reduzido possível para que o indivíduo possa retomar a sua atividade profissional. No caso de um atleta amador ou recreativo haverão outros fatores a tomar em conta e o foco principal poderá não ser o desporto, mas sim o regresso à vida normal do indivíduo. O resumo geral e os principais resultados deste estudo serão apresentados noutro artigo, aqui no site.
Bibliografia
Dijkstra, H. P., Pollock, N., Chakraverty, R., & Ardern, C. L. (2017). Return to play in elite sport: a shared decision-making process. British Journal os Sports Medicine.
Ekstrand, J., Krutsch, W., Spreco, A., van Zoest, W., Roberts, C., Meyer, T., & Bengtsson, H. (2019). Time before return to play for the most common injuries in professional football: a 16-year follow-up of the UEFA Elite Club Injury Study. British Journal of Sports Medicine.
FIFA. (2017). Return to play criteria. Obtido de FIFA Medical Network: https://www.fifamedicalnetwork.com/lessons/thigh-return-to-play-criteria/
Autor
André Ferreira – Fisioterapeuta Lic., Mestre em Terapia Manual Ortopédica
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